Temos muitas decisões a serem tomadas em torno da gestão dos reflexos da Covid-19 no
Brasil e muitas delas dependem do entendimento e do planejamento dos municípios para
que possam executar processos de vacinação, volta às aulas, atividades de lazer, dentre
outras ações. Para abordar o assunto com propriedade, o evento contou com a participação
do médico sanitarista Gonzalo Vecina, fundador e ex-presidente da Anvisa, professor
assistente da Faculdade de Saúde Pública da USP e superintendente do hospital Sírio
Libanes.
O especialista entende que a piora da situação vivida pelo Brasil se deve à permissão de
funcionamento a locais fechados que não possuem circulação de ar adequada e de
movimentos de aglomerações, e também ao comportamento individual de recusa de evitar
aglomerações e desprezo do uso de máscara, bem como de outras ações que contribuem
para a proteção da população, como a higiene constante das mãos. Por isso é importante
lembrar que o vírus viaja a partir de gotículas que são expelidas pela nossa boca quando
falamos, respiramos ou tossimos.
Segundo Vecina, ambientes sem ventilação permitem que o vírus fique em suspensão por
muito mais tempo, contribuindo para a sua disseminação. Isso significa que estamos
permitindo aglomerações e não estamos dando a devida atenção, o que é uma função
importante das Prefeituras. “A causa do aumento de casos somos nós na rua, ampliando o
nosso contato com outras pessoas. Ninguém tem mais paciência para lockdown, mas se
nós não tivermos consciência individual e coletiva, não vamos conseguir diminuir o impacto
do Covid-19 e correremos o risco deste repique resultar em colapso em nossos hospitais,
que já estão chegando em sua capacidade plena”, destacou.
Ele explica que entre os pacientes diagnosticados com Covid-19, estima-se que 5%
necessitam de atendimento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e 15% demandam os
hospitais. “Nossa rede hospitalar (do Brasil como um todo) não aguenta a pressão
provocada pela demanda das doenças já habituais somadas à grande demanda gerada
pelo Covid-19 e muitas UTI’s do Estado de São Paulo já estão chegando a mais de 80% de
sua capacidade”.
Então o que podemos fazer a nível municipal?
Garantir que a atenção básica funcione. Por exemplo, onde possui Estratégia de Saúde da
Família, não deixar faltar equipamento de proteção individual, como máscara, face shield e
outros itens. Assegurar o acesso aos exames de RTPCR, para ter acesso a diagnóstico
para monitorar a contaminação por vírus e ter condições de oferecer o melhor tratamento
para o cidadão.
Se possível, investir na telemedicina, para evitar que o cidadão tenha que ir na unidade
básica de saúde e dar atenção ao monitoramento dos pacientes positivados, para
acompanhar a evolução de sintomas, principalmente no que diz respeito aos sinais de
insuficiência respiratória, que se tratados em estágios iniciais, podem evitar o agravamento
do quadro. “Além disso, é importante que a Amppesp, enquanto organização, exerça o seu
papel para exigir melhorias no sistema de saúde. O Brasil é o único país do mundo que
fecha escola e abre bar, mesmo sabendo que a cada 100 pessoas que morreram de Covid-
19, 97 tinham mais de 50 anos”, frisou o médico.
Volta às aulas
Vecina ressalta que essa doença não atinge grandes quantidades de crianças e elas são
menos transmissoras que os adultos. “Algumas ficam doentes e transmitem, mas não a
maioria. Vamos ter que reconsiderar a abertura das escolas e creches, pois as crianças que
deixam de aprender e de socializar, tem uma perda para sempre”.
Quem volta?
Para o especialista, primeiro as crianças, sendo importante que os professores que
pertencem ao grupo de risco se mantenham em home office. “Essa é uma discussão que
nós devemos fazer com os pais e professores, não tentando ser unânimes, mas discutindo
todo mundo junto. Também é importante não pensar em abrir a escola inteira em um pacote
só, vamos tentar fazer, por exemplo, funcionar 50% creche, 30% crianças maiores, sempre
em busca do bom senso, a partir do diálogo com a comunidade e profissionais”.
O futuro são as vacinas!
Que estão aí na porta, é verdade, mas que ainda não estão disponíveis de fato. Existem
quatro vacinas que foram testadas no Brasil (Sinovac, Pfizer, Oxford e AstraZeneca e
Janssen) e que por isso as indústrias tem o compromisso de colocar a vacina no país. O
que o futuro nos reserva? O ano que vem terá de ser igual a este ano, vamos continuar
usando máscara, evitar aglomerações e com atenção ao distanciamento social, ou vamos
ter ainda mais mortes e colapso em hospitais. “As vacinas só vão nos trazer a normalidade
em meados de 2022, pois é necessário cobrir toda a população. Ainda temos muitas
perguntas que não possuem respostas boas, e muita ação que temos que desenvolver para
conseguirmos passar por essa crise sanitária”, finalizou Vecina.
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